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CPI do Esgoto: Blumenau no centro de uma crise contratual

  • Foto do escritor: Túlio De Amorim Pfuetzenreiter
    Túlio De Amorim Pfuetzenreiter
  • 2 de jul.
  • 3 min de leitura

Blumenau vive um momento decisivo. Foi instaurada na Câmara de Vereadores uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis irregularidades no contrato firmado entre a Prefeitura, o SAMAE (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) e a empresa BRK Ambiental, responsável pela operação do sistema de esgotamento sanitário no município.

 

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O CONTRATO

Assinado originalmente em 2010 com a BRK Ambiental, o contrato prevê a concessão dos serviços de esgoto à iniciativa privada, com o objetivo de modernizar o sistema e ampliar a cobertura na cidade.

Em março de 2025, um novo aditivo contratual foi firmado pela Prefeitura junto à BRK. Nele constavam as seguintes alterações:


  • Extensão do contrato até 2064 — originalmente venceria em 2040.

  • Alteração no modelo de coleta de esgoto: cerca de 40% dos imóveis seriam atendidos com fossas sépticas e caminhões limpa-fossa. Assim, o município adota oficialmente um modelo híbrido, o que muda a lógica original da concessão.

  • Aplicação de reajuste tarifário de até 15,9% além da inflação.

  • Alteração nos critérios de revisão tarifária, facilitando novos aumentos a depender dos investimentos ou metas.

  • Aumento no prazo para a BRK cumprir metas de expansão da cobertura.


Esse aditivo foi aprovado de maneira obscura, sem realização de licitação ou consulta pública, o que levantou sérias suspeitas quanto à legalidade do processo.

 

AS SUPOSTAS ILEGALIDADES

As irregularidades apontadas giram em torno de falta de transparência, violação de princípios constitucionais da administração pública e possível lesão ao interesse público e econômico da cidade. São elas:


  • Prorrogação contratual sem nova licitação: A Lei nº 8.987/1995 exige que prorrogações de longo prazo, como a feita até 2064, sejam justificadas por interesse público e, em muitos casos, precedidas de nova concorrência.

  • Ausência de consulta pública: O Marco Legal do Saneamento e decisões do TCU orientam que alterações significativas em contratos de concessão devem ser debatidas com a sociedade.

  • Violação ao princípio da modicidade tarifária: O aumento de até 15,9%, além da inflação, sem explicação técnica transparente, pode configurar abuso.

  • Alteração da lógica do contrato original sem nova análise técnica: A substituição de parte da rede de esgoto por fossas e caminhões muda completamente o objeto da concessão aprovada em 2010 — o que pode ferir o princípio da legalidade e da vinculação ao edital.

  • Desrespeito ao princípio da eficiência administrativa: A adoção do modelo com fossa séptica para áreas urbanas pode ser considerada um retrocesso sanitário. Contraria metas de universalização e eficiência previstas no Marco Legal do Saneamento.

  • Desequilíbrio contratual em favor da concessionária: O aditivo ampliou prazos, facilitou reajustes e flexibilizou metas, sem contrapartidas claras para o poder público ou para os usuários. Pode configurar enriquecimento indevido da BRK, com prejuízos ao erário e à população.


Mais uma vez, a dispensa de licitação é utilizada como instrumento que, em vez de servir ao cidadão, o prejudica.

 

A CPI

A CPI do Esgoto em Blumenau foi instaurada oficialmente pela Câmara Municipal em 12 de junho de 2025, por iniciativa dos vereadores Diego Nasato e Bruno Win (Novo). O pedido contou com o apoio de mais 12 vereadores, totalizando 14 assinaturas:


  • Diego Nasato (Novo)

  • Bruno Win (Novo)

  • Ailton de Souza — “Ito” (PL)

  • Flávio José Linhares (PL)

  • Bruno Cunha (Cidadania)

  • Almir Vieira (PP)

  • Gilson de Souza (União Brasil)

  • Alexandre Matias (PSDB)

  • Silmara Miguel (PSD)

  • Adriano Pereira (PT)

  • Egídio Beckhauser (Republicanos)

  • Dr. Marcelo Lanzarin (PP)

  • Jean Volpato (PT)

  • Cristiane Loureiro (Podemos)


O único vereador que não assinou a abertura foi Jovino Cardoso Neto (PL).

Ainda nos estágios iniciais, a CPI tem como objetivo convocar representantes da Prefeitura, da BRK Ambiental, técnicos do SAMAE e da AGIR (Agência Intermunicipal de Regulação). A depender das conclusões, o relatório final poderá ser encaminhado ao Ministério Público, Tribunal de Contas ou até mesmo resultar em ações judiciais contra os responsáveis.

O que está em jogo não é apenas um contrato: é a confiança da população na gestão dos recursos públicos e o direito fundamental ao saneamento básico digno, acessível e eficiente. É justamente por isso que Blumenau precisa acompanhar de perto cada passo dessa investigação.

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