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ARAPONGAS, O BAIRRO ABANDONADO

  • Foto do escritor: Túlio De Amorim Pfuetzenreiter
    Túlio De Amorim Pfuetzenreiter
  • 27 de ago.
  • 6 min de leitura

Quando se fala em Indaial, o que o governo mostra é um troféu. O que o Arapongas mostra é mofo no teto, esgoto voltando pelos ralos, salas de aula superlotadas e professores perseguidos. Enquanto a Prefeitura ostenta prêmios, banners e discursos sobre gestão eficiente, um bairro inteiro agoniza — esquecido, desprezado e forçado a sobreviver à base do improviso.

O Arapongas não tem praça. O posto de saúde funciona com estrutura insalubre. A escola alaga quando chove. E quem ousa denunciar, vira alvo. Não se trata de descaso ocasional. Trata-se de uma política silenciosa de abandono.

Essa é a Indaial premiada. Mas, no Arapongas, não há o que comemorar.


O POSTO ABANDONADO


Em 2024, Indaial foi agraciada com o Prêmio Band Cidades Excelentes, na categoria Saúde e Bem-Estar. O reconhecimento foi amplamente divulgado pela Prefeitura, que celebrou o feito como símbolo da qualidade dos serviços públicos. Mas, no bairro Arapongas, a realidade observada na Unidade de Saúde contradiz completamente o discurso oficial.

A unidade não possui sala de vacinação nem consultório odontológico. Os serviços mais básicos — como uma vacina ou um atendimento odontológico — são negados no próprio bairro, obrigando os moradores a buscarem atendimento em outras regiões da cidade.

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O espaço físico é extremamente limitado. O consultório de enfermagem divide ambiente com a farmácia, separado apenas por uma divisória improvisada, que não oferece qualquer privacidade. A farmácia, por sua vez, opera com estoque reduzido e mal armazenado, sem condições estruturais para suprir a demanda da população.

Além disso, todas as salas da unidade apresentam sinais de deterioração, como mofo, umidade e rachaduras nas paredes. No consultório médico, a pintura feita há menos de três meses já está manchada, com cheiro forte e aparência insalubre. Em dias de

chuva, o esgoto retorna pelos ralos dos banheiros, tornando o ambiente ainda mais impróprio para o atendimento em saúde pública.

O prédio também não possui banheiros masculino e feminino separados. Um dos sanitários foi desativado e adaptado como expurgo, já que o espaço original da unidade simplesmente não previa essa estrutura essencial.

Mas o ponto mais crítico é o crescimento descontrolado da demanda. Diariamente, a unidade realiza de 5 a 8 novos cadastros de usuários vindos de outros municípios. Trata-se de um fluxo contínuo de pessoas que passam a utilizar os serviços do Arapongas — que já são escassos e limitados. A equipe atual, enxuta e sobrecarregada, atua no limite da capacidade. Ainda se consegue ofertar o mínimo, mas o colapso é só questão de tempo.

Essa é a Indaial que ostenta troféu.

Uma cidade premiada pela saúde, mas que mantém uma unidade funcionando em ambiente insalubre, superlotado e sem estrutura básica.

E diante desse cenário, permanece a pergunta que ninguém quer

responder:

Como a Vigilância

Sanitária permite o

funcionamento de uma unidade de saúde nessas condições?

Quem será responsabilizado quando a estrutura desabar?

Prêmio nenhum disfarça o cheiro de esgoto. Nem o abandono visível a olho nu.


A ESCOLA ABANDONADA

Enquanto o discurso oficial da Prefeitura de Indaial tenta pintar um cenário de avanços na educação, a realidade da Escola do Arapongas expõe um colapso crônico — visível, documentado e, ainda assim, ignorado.

A estrutura da unidade é alarmante:

o forro está caindo, há umidade pelas paredes e infiltrações em várias salas. Os alunos convivem

diariamente com mosquitos em grande quantidade, o que torna o ambiente insalubre e desconfortável.


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As salas de aula estão superlotadas, prejudicando

diretamente o aprendizado e o desempenho de professores e estudantes. E, como se não bastasse, a escola não possui quadra esportiva. O que existe é um espaço improvisado com chão de macadame, coberto com pó de brita, exposto ao sol e equipado apenas com duas traves metálicas. Um “campo” que mais parece um canteiro de obras abandonado — onde, ainda assim, se espera que as crianças façam educação física.

Mas existe uma solução? Sim. Em agosto de 2024, o município se comprometeu, junto ao Ministério Público, a elaborar um plano de trabalho para a realocação da escola. Após a aprovação desse plano — que poderia levar até 3 meses —, a Prefeitura teria um prazo de 18 meses para concluir a obra. Isso significa que o limite legal para entrega da nova estrutura seria por volta de maio de 2026.


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A nova escola chegou a ser anunciada publicamente em fevereiro deste ano pelo vereador Diogo Pinho, durante entrevista ao jornalista Roman Reiter. Questionado sobre a previsão para o início das obras, o vereador respondeu:

“Acredito que já é para os próximos meses. Eu confirmei isso com o secretário de Educação, agora falta definir o local.”

Mas qual é o andamento real? Segundo professores da unidade, até o momento não foi definido sequer o terreno onde a escola será construída, e o projeto técnico ainda não foi elaborado.

A redação do Jornal Explore tentou confirmar essas informações com o secretário de Educação — sem resposta até o momento desta publicação. Também foram feitas tentativas de contato com o prefeito Silvio Cezar, igualmente sem retorno.

A situação se agrava com um problema estrutural ainda mais grave: a escola alaga. Há uma tubulação que se conecta ao rio próximo, e quando o nível do rio sobe, a água retorna pela tubulação e invade o prédio. Nessas ocasiões, são os próprios professores que precisam erguer móveis e realizar faxina geral na escola, sem qualquer suporte emergencial da Secretaria de Educação.

O antigo diretor da unidade, diante da omissão do Executivo, chegou a acionar o Ministério Público solicitando mudanças na estrutura hidráulica da escola. A resposta do poder público? Desgosto político. Segundo informações dos bastidores, o então secretário de educação Márcio Moisés Selhorst não teria aprovado a “postura desesperada” do diretor.

Ainda circula nos bastidores uma informação extraoficial: a Prefeitura teria tentado alugar um prédio onde funcionava uma antiga universidade para transferir temporariamente a escola, mas o Ministério Público teria barrado a ideia por considerar o imóvel inadequado e o valor do aluguel abusivo. Com isso, a comunidade escolar segue condenada a conviver com infiltrações, alagamentos e improvisos — sem alternativas, sem reformas e sem planejamento.

Esse é o retrato da Escola do Arapongas.

Um prédio velho, alagado, infestado de mosquitos, com forro caindo e sem estrutura mínima para atividades pedagógicas.

E, ainda assim, o município insiste em afirmar que a educação está indo bem.

Quantos móveis ainda precisam ser erguidos durante um alagamento para que algo seja feito?

Quantas denúncias precisarão circular antes que a Secretaria de Educação desça do palanque e encare a realidade?


A PERSEGUIÇÃO AOS QUE RECLAMAM

Em setembro de 2023, a crise na Escola do Arapongas assumiu um contorno ainda mais perverso: a perseguição institucional a um diretor que tentou agir corretamente diante de um aluno autista em crise.

Sem apoio da Secretaria de Educação, o diretor retirou o aluno da sala e o levou até a quadra improvisada da escola. Lá, a pedido do próprio estudante, organizou uma atividade com uma carteira e duas cadeiras. Tudo foi feito com cuidado e respeito.

Horas depois, um perfil falso no Instagram publicou uma denúncia absurda, acusando o diretor de “tortura sob o sol”. O caso foi parar na delegacia. Quatro pessoas prestaram depoimento contra o professor — e todas foram contempladas com cargos comissionados pela Prefeitura.

O diretor foi afastado.

Mesmo com parecer técnico da própria Secretaria afirmando que sua conduta foi correta, o secretário de educação manteve a pressão política pela exoneração.

O educador teve que gastar mais de R$ 8 mil em sua defesa. Ficou um ano afastado, com sua reputação arrastada pela lama.

Tudo isso por tentar proteger um aluno e suprir a ausência do Estado.


UMA COMUNIDADE ABANDONADA


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O bairro Arapongas não sofre com falhas pontuais — sofre com abandono sistemático. A precariedade da escola, o caos no posto de saúde, a ausência de praças, a falta de planejamento urbano e até a perseguição contra quem tenta denunciar os problemas mostram que não se trata de incapacidade técnica, mas de escolha política.

Enquanto a Prefeitura coleciona prêmios e projeta uma imagem de excelência, os moradores do Arapongas convivem com infiltrações, esgoto, mofo, superlotação e medo.

Quantos troféus mais serão erguidos enquanto o bairro afunda?

Quantos professores ainda precisarão ser punidos por fazer o certo?

Porque se Arapongas não é prioridade, então a verdade precisa ser dita:

para o governo de Indaial, o povo desse bairro não importa.

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